O Mistério das Vozes - Parte 1
Juninho é um garoto inquieto, curioso e arrogante, um combo
perfeito para as más-línguas dos habitantes do vilarejo, que sempre o evitavam.
Era início de novembro e a família de Juninho, os pais e o
irmão mais velho, estava preparando a festa de aniversário de 12 anos dele. Não
era nada demais, pois a família estava com pouca renda, devido à seca do ano
anterior, as plantações não produziram o esperado, então todos tiveram que
conseguir alguma renda extra para se manter. Claro, Juninho ficava na casa de
uma vizinha enquanto todos da casa estavam fora.
Com os preparativos finalizados, ao fim da tarde, começaram
a comemoração. Alguns vizinhos levaram seus filhos, da mesma faixa etária do
aniversariante, e ficaram todos conversando enquanto as crianças brincavam. A
casa estava cheia, mas não por causa do garoto, pois quase ninguém o suportava.
A maioria foi pela família, que sempre ajudava os moradores da pequena vila e
eram muito agradáveis, diferente do pequeno Juninho que, diziam os boatos,
parecia adotado, pois não parecia nem um pouco com a família.
A noite caiu e começou a famosa canção de parabéns. Depois
das felicitações, algumas pessoas voltaram para casa e outras permaneceram
conversando.
Juninho e mais três crianças voltaram a brincar nos fundos
da casa, perto às plantações. Brincavam de pique-esconde, já que era noite e
Juninho sabia que jamais o encontrariam em cima de uma das macieiras do pequeno
pomar. De lá, ele avistara um dos garotos escondido e a garota que os
procurava. Ao longe, ele pensou ter visto outra das crianças em um lado escuro
de uma das hortas, mas percebeu que era só um mato alto em meio aos pés de
couve, em um canto.
Perto de dar 23 horas, os últimos convidados chamaram as
crianças e foram embora. Juninho esperou as crianças saírem para descer sem
expor seu esconderijo perfeito. Ao pisar no chão, ouviu seu pai pedir para
levar umas maçãs da macieira em que estava. Assustado e um pouco preocupado por
ter deixado alguém ver seu esconderijo, ele pegou as maçãs e entrou em casa.
Seu pai estava tomando banho e sua mãe estava na cozinha
lavando alguns dos utensílios usados na festa. Juninho deixou as maçãs sobre a
mesa e avisou à mãe que, levemente intrigada respondeu:
- Seu pai está no banho há uns dez minutos, ele não pode ter
pedido as maçãs. Certamente foi algum dos pais que caçoaram de você.
Meio confuso, ele esperou seus pais e seu irmão tomarem
banho para ir em seguida e, depois, ir deitar.
Já deitado, virou para seu irmão, que dividia o mesmo
quarto, e perguntou se fora ele quem pedira as maçãs, pois tinha certeza que
não fora a voz de um dos pais das crianças. Nico, como chamavam o irmão, de 20
anos, respondeu que não tinha nada a ver com isso e que era para irem dormir,
pois acordariam cedo na manhã seguinte.
Ambos dormiram logo em seguida, devido ao cansaço da festa.
No meio da madrugada, Juninho acorda com um grito, que não sabia se viera do
pesadelo que estava tendo ou de fora da janela do quarto, que dava para os fundos.